Doenças Espirituais – Introdução, as três doenças fundamentais e Gastrimargia
Amados irmãos e irmãs, a Paz!
Depois do intervalo para vivenciarmos um Carnaval cristão, hoje voltamos com os nossos posts de Partilha semanais.
Na última partilha sobre anjos, soubemos que há um combate e que eles nos ajudam. Já na partilha do dia 04/03 começamos um novo tema, que nos ensinou contra o que devemos lutar para vencermos nossos pecados e como colocar isto em prática. Estudamos agora as Doenças Espirituais e suas Terapias, baseados nos áudios homônimos do Pe. Paulo Ricardo (http://padrepauloricardo.org).
Deus, nosso Pai, nos criou essencialmente para o bem. Nenhum de nós é mal por natureza, possuímos uma tendência para o mal que começou quando Adão e Eva confiaram no maligno e daí se deu o pecado original. Temos uma doença que nasceu com a gente a partir disto: tendemos sempre a inverter os papéis e colocar as criaturas no lugar de Deus.
Um exemplo bom para explicitar: temos um noivo e uma noiva, o noivo a dá um presente tão bonito e a noiva, por sua vez, gostou tanto do presente que se esqueceu do noivo. Passa a contemplar algo que foi dado em sinal de amor que acaba se transformando em separação. Deus é esse noivo e nós, criaturas, somos a noiva.
Assim foi a criação que Deus confiou a nós. Deus entregou-a a nós em sinal de amor, para que por meio dela nós enxergássemos esse amor e nos aproximássemos dele. Mas nós transformamos aquilo que era um meio em finalidade, o colocamos no lugar de Deus. Essa é a tendência que nós recebemos pelo pecado original: exaltamos as coisas e nos esquecemos de quem a nos proporcionou.
O estudo que estamos fazendo sobre as doenças espirituais tem como objetivo a conscientização sobre esses distúrbios que habitam em nós bem como o aprendizado da terapêutica eficaz para lutarmos contras eles. É fundamental entender, entretanto, que a cura total dessa condição só se fará na eternidade. Por enquanto, devemos nos empenhar em uma vida ascética, ou seja, de luta, esforços e empenhos para que não sejamos reféns dos nossos instintos e possamos reverter as consequências do pecado original.
Para compreendermos as doenças, é necessário entender que elas se comportam num esquema de pirâmide, onde uma deriva a outra. Mas temos a mãe de todas as doenças, que gera todas as outras e que chamamos de Filáucia.
São Máximo confessor já dizia: “Quem combate a mãe das paixões, que é o amor de si, com a ajuda de Deus combate facilmente as outras paixões. Mas quem é dominado pela primeira paixão também está ferida pelas outras. (…) A filáucia é um amor irracional de si mesmo. É um amor de si contra si.”
pessoa filauciosa quer fugir da dor e busca o prazer. Essa é a lei básica e egoísta desta doença. O grande problema é que prazer não significa felicidade, mesmo que muitos compreendam desta forma. Enquanto o primeiro está ligado ao corpo, a felicidade está ligada a alma. O homem é a junção do carnal e do espiritual. Buscar a felicidade no prazer está errado, é um erro de alvo, e não trará a plenitude para a qual Deus nos projetou.
Pecamos por tentarmos ser felizes e erramos de endereço. O amor irracional a si próprio acaba por nos condenar, como, por exemplo, um drogado, que busca o tanto prazer que acaba se destruindo através da droga, acreditando que ela é seu único meio de felicidade. É uma total falta de discernimento entre o carnal e o espiritual.
A Filáucia, como já vimos, é a mãe de todas as doenças. Porém, depois dela, temos três doenças fundamentais derivadas dela: a Gastrimargia, a Avareza e a Vanglória. Estas três doenças se opõem às três virtudes quaresmais: jejum, esmola e oração, respectivamente. Hoje trataremos da Gastrimargia e falaremos das outras nas próximas Partilhas.
A gastrimargia é a loucura do ventre, do estômago. É o pecado da gula, mas não o chamamos assim aqui, pois não se trata apenas de comer excessivamente, seu raio de doenças paralelas é bem amplo.
Sejamos sinceros, quem de nós leva a sério o pecado da gula? Quem de nós o confessa? A gula é tratada por muitos de nós como um pecado venial, levíssimo, que na maioria das vezes nem entra em nossa lista. Trata-se um pecado fundamental, como vimos, e não só pelo ato em si, mas principalmente por todos os males derivados dela.
Em sua obra “A Escada”, São João Clímaco escreve como se fosse o pecado, para elucidá-lo:“Meu primeiro filho é o espírito de fornicação (luxúria). Não existe ninguém que tenha pecados sexuais que não sofra de gula. Em segundo lugar vem a dureza de coração e em terceiro lugar o sono. De mim procedem depois um mar de maus pensamentos, o abismo da impureza. São minhas filhas: a preguiça, a fofoca, a excessiva familiaridade, a vontade de fazer rir, jocosidade, contestação, obstinação, desobediência, insensibilidade, soberba, arrogância, ostentação, oração impura, agitação dos pensamentos, …”.
Atentemos para o fato de que somente a luxúria tem ligação direta com a gula. A dureza de coração e o sono não possuem a mesma equivalência. Muitos podem ser duros de coração e não sofrer de gula, o mesmo vale para a sonolência exagerada.
Como já vimos, a gastrimargia é a loucura do estômago. É uma doença espiritual, cujo problema não é comer, mas sim a atitude espiritual que se tem ao comer, uma atitude doentia diante da comida, mesmo que se coma pouco.
Mas vamos entender que comer é coisa boa, e se as comidas boas existem elas são dons de Deus. O problema é que nos voltamos para a comida e nos esquecemos do criador. Por isso, a única atitude saudável diante da comida é comer em ação de graças, vendo a comida como um dom de amor de Deus e não se esquecendo daquele que é a fonte do alimento. Daí a importância de rezarmos antes de comer.
A atitude da gastrimargia é uma atitude destruidora, não importa nada desde que se possa tirar o prazer, o proveito para si. Isto nasce conosco, não é algo que adquirimos com o tempo. Nossos impulsos para coisas boas que Deus criou, como a comida, estão manchados por essa atitude, uma cegueira espiritual que faz com que nos esqueçamos do criador e procuremos com voracidade a felicidade completa nas criaturas. Assim conseguimos entender a relação da luxúria com a gastrimargia, pois a lógica é a mesma. Por isso, a tentativa de cura da gastrimargia é um dos caminhos para a cura de tendências de luxúria. A doença está no modo perverso de nossa mente funcionar.
Como sabemos, o salário do pecado é a morte e a gula promove uma loucura espiritual. A pessoa que procura o prazer na comida o tempo todo fica mais lerda espiritualmente, a alma fica pesada e não consegue levantar vôo. Principalmente porque existe uma certa sonolência e uma multidão de pensamentos, divagações que aparecem principalmente na hora de rezar. Isso pode ser diagnosticado quando os sintomas vêm juntos, não necessariamente todos, mas um isolado não significa problema de gastrimargia.
Agora que vimos a doença e suas derivações, como tratá-la? Possamos então entender como se dá a Terapia da Gastrimargia, dividida em oito dicas para o dia-a-dia, para tirar da cabeça o pensamento obsessivo de que há necessidade de comer para se acalmar e ser feliz:
1) Jejum–> Proposto pela Igreja trata-se de um livramento dessa lógica de que a salvação está na comida. O importante no jejum não é passar fome, mas cultivar a atitude espiritual de ação de graças e dissociar a ideia de que a salvação, a felicidade, tem como alvo a comida. É comer para viver e não viver para comer.
2) Levantar da mesa com um pouco de fome–> “O monge não deve nem comer e nem comer até a saciedade”. Sempre se levante da mesa com um pouco de fome. Quando você sente a saciedade, na verdade, o limite já foi passado há um tempo. O cérebro demora a perceber o estímulo de saciedade e, portanto, você já está forçando o limite do estômago.
3) Bebidas–> Saber parar antes do seu limite.
4) Escolher os alimentos pelos benefícios que trazem para a saúde–> Comer escolhendo os alimentos não pelo prazer, mas pelo valor nutritivo e bem que pode fazer à sua saúde. Essa deve ser a prioridade. É um pouco de sacrifício e esforço espiritual que fará bem para a alma. Assim, a alimentação cumpre a função dela, a finalidade – nutrir – e o prazer, que é uma consequência, fica no seu lugar de origem – o de consequência e não alvo. Olhe para a finalidade da alimentação que você não erra o alvo, não peca. Ex: Para a quaresma – escolher batata cozida no lugar de frita, pois é mais nutritiva.
5) Praticar esporte ou trabalho manual–> O excesso de comida leva à preguiça, à vontade de não se mexer. Tomar sempre o cuidado de, na prática de exercícios, não entrar no vício de querer modelar o corpo e adquirir uma atitude de idolatria para com o corpo.
6) Adequar a quantidade de comida às necessidade do organismo–> A quantidade de comida deve se adequar ao nível de esforço físico que leva a rotina de cada um, seu metabolismo. Varia muito de pessoa para pessoa.
7) Meditação da Palavra de Deus–> Para obter a força de suportar os sofrimentos que vem da luta contra as nossas tendências. Pois nós desde que nascemos tendemos a mimar nosso corpo, fugindo de toda a dor, e quando o sofrimento vem nós estamos muito sensíveis e sentimos muito mais.
8) Abstinência de carne/ evitar consumo excessivo de carne–> A tradição da Igreja diz que comer carne em excesso gera uma agitação espiritual e ajuda não só na terapia da gastrimargia, como também na luta contra ira e a luxúria.
Amados, depois deste estudo façamos uma reflexão e com base na meditação, façamos um propósito individual de jejum para esta quaresma que já estamos vivenciando. Peçamos a Deus a graça para vencermos este pecado e conseguirmos pôr em prática a terapia. Que Nossa Senhora passe da frente dos nosso objetivos e os Santos Anjos do Senhor nos ajudem a vencer esta batalha!
“Porque aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, e quem perder a sua vida por amor de mim, vai achá-la.” (Mt 16:25)
http://alegrate.wordpress.com/2011/03/23/partilha-do-dia-0403-doencas-espirituais-intoducao-as-tres-doencas-fundamentais-e-gastrimargia/