Fuga Mundi

“A vida contemplativa não é nem pode ser uma simples evasão, uma pura negação, uma fuga do mundo em face dos seus sofrimentos, crises, confusões e erros. (...) Esquecer ou ignorar esse fato não exime o monge da responsabilidade na participação de acontecimentos ante os quais o seu próprio silêncio e o seu ‘não-tomar-conhecimento’ poderão constituir uma forma de cumplicidade. (...) Pode-se dizer, em tais casos, que o monge, em sua liturgia, em seu estudo ou em sua vida contemplativa está de fato participando daquilo de cuja renúncia se congratula.”

Tarde te amei

15 versos e frases famosos de Pablo Neruda

15 versos e frases famosos de Pablo Neruda

Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto, mais conhecido como Pablo Neruda, é considerado o mais importante poeta chileno de todos os tempos. Foi o terceiro latino-americano — e o segundo chileno — a receber o prêmio Nobel de Literatura. Sua obra poética, que é extensa, ampla e profunda, transcendeu gerações e fronteiras, conquistando milhões de leitores.
No Incrível.club nos orgulhamos de difundir suas palavras e permitir que alguns de seus versos façam parte da vida de nossos seguidores. Por isso, apresentamos 15 de suas melhores frases e versos.
1. Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, se encontrarás consigo mesmo, e essa, apenas essa, pode ser a mais feliz o a mais amarga de suas horas.
2. Conhecer o amor dos que amamos é o fogo que alimenta a vida.
3. É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.
4. Para o meu coração, basta o seu peito, para a sua liberdade, bastam as minhas asas.
5. Poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera.
6. Não há mais destino do que o que faremos a puro sangue, a mão.
7. Amo seus pés porque caminharam sobre a terra e sobre o vento e sobre a água, até que me encontraram.
8. Há um certo prazer na loucura, que só o louco conhece.
9. Acontece é que me canso de ser homem.
10. Gosto quando te calas porque estás como que ausente, e me escutas de longe, e minha voz não te tocas. Parece que os olhos tivessem de ti voado, e parece que um beijo te fecharás a boca.
11. Se nada nos salva da morte, pelo menos que o amor nos salve da vida.
12. E quando você aparecer ouvem-se todos os rios em meu corpo, agitam-se os céus, os sinos e um hino enche o mundo.
13. Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejeiras.
14. E se não dá mais, apenas encontre o que está em suas mãos, creia que dar amor nunca é em vão. Vá em frente sem olhar para trás.
15. Fica proibido não sorrir dos problemas, não lutar pelos que querem lhe abandonar por medo, não tornar seus sonhos realidade.
http://incrivel.club/criatividade-arte/15-versos-e-frases-famosos-de-pablo-neruda-805/

15 Frases de Jorge Luis Borges


15 Frases de Jorge Luis Borges
Jorge Luis Borges é um dos maiores escritores argentinos e latino-americanos do século XX e de todos os tempos. Sua passagem pela literatura deixou um rastro inapagável e serviu de inspiração para centenas de novas vozes e milhões de leitores ávidos por fantasia e poesia. Ao longo de sua vida, publicou dezenas de livros de ensaio, poesia e contos. Sua obra é imensa e maravilhosa e ainda assim ele sempre sentiu que era grande não pelo que tinha escrito, mas pelo que tinha lido.
Incrível.club compartilha com você 15 frases célebres deste eterno candidato ao prêmio Nobel de Literatura, que fez do universo uma biblioteca infinita e do conhecimento a sua maior ambição
1. Não fale a menos que possa melhorar o silêncio.
2. Eu não falo de vinganças nem perdões, o esquecimento é a única vingança e o único perdão.
3. É necessário ter cuidado escolhendo os inimigos, porque acaba se parecendo a eles.
4. O passado é argila que o presente lavra ao seu capricho. Interminavelmente.
5. Entre as coisas há uma da qual ninguém se arrepende na Terra. Essa coisa é ter sido valente.
6. Alguém está apaixonado, quando percebe que a outra pessoa é única.
7. Estar contigo ou não estar contigo é a medida do meu tempo.
8. Talvez porque já não vejo a felicidade como algo inalcançável, agora sei que a felicidade pode acontecer em qualquer momento e que não deve ser perseguida.
9. Quando nossas ideias se chocam com a realidade, o que tem de ser revisado são as ideias..
10. Apenas aquele que foi é que nos pertence.
11. Cometi o pior dos pecados que um homem pode cometer, não fui feliz.
12. Quem sou? Estou tentando verificar.
13. A beleza é esse mistério maravilhoso que não decifram nem a psicologia nem a retórica.
14. Felizes os valentes, os que aceitam com mesmo ânimo a derrota ou os aplausos.
15. Somos nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, esse montão de espelhos quebrados.

Exaustos-e-correndo-e-dopados

Na sociedade do desempenho, conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo no mesmo corpo


Nos achamos tão livres como donos de tablets e celulares, vamos a qualquer lugar na internet, lutamos pelas causas mesmo de países do outro lado do planeta, participamos de protestos globais e mal percebemos que criamos uma pós-submissão. Ou um tipo mais perigoso e insidioso de submissão. Temos nos esforçado livremente e com grande afinco para alcançar a meta de trabalhar 24X7. Vinte e quatro horas por sete dias da semana. Nenhum capitalista havia sonhado tanto. O chefe nos alcança em qualquer lugar, a qualquer hora. O expediente nunca mais acaba. Já não há espaço de trabalho e espaço de lazer, não há nem mesmo casa. Tudo se confunde. A internet foi usada para borrar as fronteiras também do mundo interno, que agora é um fora. Estamos sempre, de algum modo, trabalhando, fazendo networking, debatendo (ou brigando), intervindo, tentando não perder nada, principalmente a notícia ordinária. Consumimo-nos animadamente, ao ritmo de emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e escravo ao mesmo tempo.
Como na época da aceleração os anos já não começam nem terminam, apenas se emendam, tanto quanto os meses e como os dias, a metade de 2016 chegou quando parecia que ainda era março. Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época. E já percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta. O corpo então virou um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados. Porque só dopados para continuar exaustos-e-correndo. Pelo menos até conseguirmos nos livrar desse corpo que se tornou uma barreira. O problema é que o corpo não é um outro, o corpo é o que chamamos de eu. O corpo não é limite, mas a própria condição. O corpo é.
Os cliques da internet são os remos das antigas galés. Remem... Cliquem....
Os cliques da internet tornaram-se os remos das antigas galés. Remem remem remem. Cliquem cliquem cliquem para não ficar para trás e morrer. Mas o presente, nessa velocidade, é um pretérito contínuo. Se a internet parece ter encolhido o mundo, e milhares de quilômetros podem ser reduzidos a um clique, como diz o clichê e alguns anúncios publicitários, nosso mundo interno ficou a oceanos de nós. Conectados ao planeta inteiro, estamos desconectados do eu e também do outro. Incapazes da alteridade, o outro se tornou alguém a ser destruído, bloqueado ou mesmo deletado. Falamos muito, mas sozinhos. Escassas são as conversas, a rede tornou-se em parte um interminável discurso autorreferente, um delírio narcisista. E narciso é um eu sem eu. Porque para existir eu é preciso o outro.
Talvez parte do que consideramos ativismo seja um novo tipo de passividade
Há tanta informação disponível, mas talvez estejamos nos imbecilizando. Porque nos falta contemplação, nos falta o vazio que impele à criação, nos falta silêncios. Nos falta até o tédio. Sem experiência não há conhecimento. E talvez uma parcela do ativismo seja uma ilusão de ativismo, porque sem o outro. Talvez parte do que acreditamos ser ativismo seja, ao contrário, passividade. Um novo tipo de passividade, cheia de gritos, de certezas e de pontos de exclamação. Os espasmos tornaram-se a rotina e, ao se viver aos espasmos, um espasmo anula o outro espasmo que anula o outro espasmo. Quando tudo é grito não há mais grito. Quando tudo é urgência nada é urgência.Ao final do dia que não acaba resta a ilusão de ter lutado todas as lutas, intervindo em todos os processos, protestado contra todas as injustiças. Os espasmos esgotam, exaurem, consomem. Mas não movem. Apaziguam, mas não movem. Entorpecem, mas será que movem?
Sobre esse tema há um pequeno livro, precioso, chamado sugestivamente deSociedade do Cansaço (Editora Vozes). Seu autor é o filósofo Byung-Chul Han, um coreano radicado na Alemanha que se tornou professor universitário de filosofia e estudos culturais em Berlim. Neste livro, Han faz um diálogo crítico com pensadores como Alain Ehrenberg, Giorgio Agamben, Michel Foucault, Hanna Arendt, Walter Benjamin e Friedrich Nietzsche, entre outros. Já meu diálogo com ele é por minha própria conta e risco.
Sobre nossa nova condição, Han diz:
“A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são sociedades livres. Elas geram novas coerções. A dialética do senhor e escravo está, não em última instância, para aquela sociedade na qual cada um é livre e que seria capaz também de ter tempo livre para o lazer. Leva, ao contrário, a uma sociedade do trabalho, na qual o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”.
Os autônomos são autômatos, programados para chicotear a si mesmos
Chegamos a isso: a exploração mesmo sem patrão, já que o introjetamos. Quem é o pior senhor se não aquele que mora dentro de nós? Em nome de palavras falsamente emancipatórias, como empreendedorismo, ou de eufemismos perversos como “flexibilização”, cresce o número de “autônomos”, os tais PJs (Pessoas Jurídicas), livres apenas para se matar de trabalhar. Os autônomos são autômatos, programados para chicotear a si mesmos. E mesmo os empregados se “autonomizam” porque a jornada de trabalho já não acaba. Todos trabalhadores culpados porque não conseguem produzir ainda mais, numa autoimagem partida, na qual supõem que seu desempenho só é limitado porque o corpo é um inconveniente.
Para este filósofo, a sociedade do século 21 não é mais disciplinar, como na construção de Foucault (1926-1984). Mas uma sociedade de desempenho. Também seus habitantes não se chamam mais “sujeitos de obediência”, mas “sujeitos de desempenho e de produção”. São empresários de si mesmos.
Se a sociedade disciplinar era uma sociedade de negatividade, a desregulamentação crescente vai abolindo-a. A afirmação Yes, we can, segundo Han, expressa o caráter de positividade da sociedade de desempenho. No lugar de “proibição”, “mandamento” ou “lei”, entram “projeto”, “iniciativa” e “motivação”. Assim, não é um acaso que a depressão é a doença dessa época. A sociedade disciplinar é dominada pelo “não”. Sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, para a qual teríamos “evoluído”, ao contrário, produz depressivos e fracassados. A sociedade de desempenho, nas palavras de Han, produz infartos psíquicos.
"O depressivo é o inválido da guerra internalizada da sociedade do desempenho"
O depressivo seria o animal laboransque explora a si mesmo. É agressor e vítima ao mesmo tempo. A depressão irromperia no momento em que o sujeito de desempenho não pode mais poder. Afinal, se tudo é possível, como eu não posso? O imperativo do tudo é possível é, paradoxalmente, aniquilador. Porque, obviamente, tudo não é possível. Nada mais limitante do que acreditar não ter limites. E viver como se poder poder dependesse apenas da (livre) iniciativa de cada um. E não poder poder, ter limites, portanto, fosse um fracasso pessoal.
Han sugere que a depressão é um cansaço de fazer e de poder. Só uma sociedade que acredita que tudo é possível é capaz de engendrar a lamúria depressiva de que nada é possível. “Não mais poder poder leva a uma autoacusação destrutiva e a uma autoagressão”, diz o filósofo. “O sujeito de desempenho encontra-se em guerra consigo mesmo. O depressivo é o inválido dessa guerra internalizada.”
"A autoexploração é mais eficiente do que a exploração do outro, porque caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade"
A depressão, portanto, seria o adoecimento de uma sociedade que sofre sob o excesso de positividade. “O sujeito de desempenho está submisso apenas a si mesmo. É nisso que ele se distingue do sujeito de obediência. A queda da instância dominadora não leva à liberdade. Ao contrário, faz com que liberdade e coação coincidam. Assim, o sujeito de desempenho se entrega à livre coerção de maximizar o desempenho. O excesso de trabalho e desempenho agudiza-se numa autoexploração. Essa é mais eficiente que uma exploração do outro, pois caminha de mãos dadas com o sentimento de liberdade. O explorador é ao mesmo tempo o explorado. Agressor e vítima não podem mais ser distinguidos.”
E, assim, estamos cada mais livres para trabalhar 24X7 – ou atuar 24X7. Alcançamos a paradoxal liberdade de sermos escravos. Como o corpo se rebela, manifestando-se em depressões, insônias, crises de ansiedade e de pânico, dopa-se o corpo. Mas o corpo não é uma outra coisa, não é sequer a casa da alma. O corpo é. Assim, ao mesmo tempo que denunciamos a opressão, a calamos. Como a relação senhor-escravo não pode ser questionada, menos ainda se ambos ocupam a mesma pessoa, o doping cumpre a função de censurar os protestos do mundo interior – ou dos escombros que restam dele. Cumpre, no nível interno, o papel das bombas de gás e das balas de borracha da PM nas manifestações de rua contra o status quo. Mas, aqui, é o mesmo indivíduo, o que reprime, censura e silencia, e o que é reprimido, censurado e silenciado.
Ser multitarefa, uma outra dimensão do mesmo fenômeno, é visto como uma capacidade neste momento histórico, uma espécie de ganho evolutivo que tornaria a pessoa mais bem adaptada à sua época. É pergunta de questionários, qualidade apresentada por pessoas vendendo a si mesmas, exigência apontada pelos gurus do sucesso. Logo se tornará altamente subversivo, desorganizador, alguém ter a ousadia de afirmar: “Não, eu não sou multitarefa. Me dedico a uma coisa de cada vez”.
"Ser multitarefa é retroceder a um estado selvagem"
Han, assim como outros filósofos contemporâneos, discorda dessa ideia – ou dessa propaganda. Ou, ainda, dessa armadilha. Para ele, a técnica temporal e de atenção multitarefa não representa nenhum progresso civilizatório. Trata-se, sim, de um retrocesso. O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente a estrutura e a economia da atenção. Com isso, fragmenta e destrói a atenção. A técnica da multitarefa não é uma conquista civilizatória atingida pelo humano deste tempo histórico. Ao contrário, está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem:
“Um animal ocupado no exercício da mastigação da sua comida tem de ocupar-se, ao mesmo tempo, também com outras atividades. Deve cuidar para que, ao comer, ele próprio não acabe comido. Ao mesmo tempo ele tem que vigiar sua prole e manter o olho em seu/sua parceiro/a. Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo – nem no comer nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, pois tem de elaborar, ao mesmo tempo, o que tem atrás de si”.
"Por falta de repouso, nossa civilização caminha para a barbárie"
A contemplação é civilizatória. E o tédio é criativo. Mas ambos foram eliminados pelo preenchimento ininterrupto do tempo humano por tarefas e estímulos simultâneos. Você executa uma tarefa e atende ao celular, responde a um WhatsApp enquanto cozinha, come assistindo à Netflix e xingando alguém no Facebook, pergunta como foi a escola do filho checando o Twitter, dirige o carro postando uma foto no Instagram, faz um trabalho enquanto manda um email sobre outro e assim por diante. Duas, três... várias tarefas ao mesmo tempo. Como se isso fosse um ganho – e não uma perda monumental, uma involução.
Voltamos ao modo selvagem. Nietzsche (1844-1900), ainda na sua época, já chamava a atenção para o fato de que a vida humana finda numa hiperatividade mortal se dela for expulso todo elemento contemplativo: “Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie”.
Frente à vida desnuda, aponta Han, reagimos com hiperatividade, com a histeria do trabalho e da produção. A agudização hiperativa da atividade faz com que essa se converta numa hiperpassividade. Aderimos a todo e qualquer impulso e estímulo. Em vez da liberdade, novas coerções. Só por meio da negatividade do parar interiormente, o sujeito de ação pode dimensionar todo o espaço da contingência que escapa a uma mera atividade. Vivemos, diz ele, num mundo muito pobre de interrupções, pobre de entremeios e tempos intermédios.
Assim, o que parece movimento pode ser apenas adesão e paralisia. O ativo, ou o hiperativo, talvez seja de fato um hiperpassivo. Se há um tempo só, o do acontecimento, ou se tudo é acontecimento, nada de fato acontece. Em parte, explica a sensação de que tudo é efêmero, de que o espasmo de um segundo atrás, que produziu gritos e fúrias, tornou-se distante, substituído por outro que também produz gritos e fúrias, e que um segundo adiante já não será. E logo não se sabe exatamente pelo que se grita e pelo que se enfurece, mas o imperativo é seguir gritando e se enfurecendo.
Nessa atualidade histérica, a irritação substitui a ira. Voltando às palavras de Han: “A ira é uma capacidade que está em condições de interromper um estado, e fazer com que se inicie um novo estado. Hoje, cada vez mais, ela cede lugar à irritação ou ao enervar-se, que não podem produzir nenhuma mudança decisiva”.
Há que se escutar o mal-estar – e não calá-lo
A positividade dessa época tem, no meu modo de ver, um desdobramento nessa crise tão particular do Brasil. Temos sido instados a ser “otimistas” ou a escolher este ou aquele lado “para recuperar o otimismo”. Como se a questão se desse em torno do otimismo/pessimismo, ou como se o otimismo fosse uma qualidade moral. Essa positividade também me parece aqui ganhar uma relação com a esperança, como já escrevi neste espaço. Como se o esperançoso tivesse uma qualidade moral a mais, o que o colocaria um ou vários patamares acima de todos os outros. E como se esse momento fosse uma questão de esperança ou de resgate da esperança, para além das manipulações marqueteiras mais óbvias. Pouco importa o otimismo/pessimismo, pouco importa a esperança. O buraco é muito mais fundo.
Há que se escutar o mal-estar – e não calá-lo. Vivê-lo num processo de interrogação, vivê-lo como movimento. Carregar os limites, sem confundir ter limites com estar paralisado. Não há potência total, não há tudo é possível, não há Yes, we can. Não ter potência total não é o mesmo que ser impotente. A ilusão da potência total é que acaba levando à impotência. Há potência em dizer não – e há potência em não fazer. Como Bartleby, o personagem de Herman Melville intuiu, “prefiro não fazer” pode ser um ato de resistência e de reconexão com a própria humanidade.
"O computador é burro porque não é capaz de hesitar"
Em mais um paralelo com as crises do Brasil atual, chama a atenção a necessidade de respostas imediatas, de explicações instantâneas, de certezas. Em alguns momentos mais agudos, uma parcela da própria imprensa parece ter se esquecido de fazer perguntas. A exigência de respostas imediatas, respostas que não passem pela investigação e pela interrogação, leva à resposta nenhuma. Porque não há pergunta. Porque o pensamento está ausente, foi substituído pelo reflexo e pelo imperativo de preencher o vazio com palavras. Não há mérito na velocidade, nadas imediatos continuam sendo nadas. Ou coisa pior.
Como aponta Han, apesar de todo o seu desempenho, o computador é burro, na medida em que lhe falta a capacidade para hesitar. Se o computador conta de maneira mais rápida que o cérebro humano e acolhe uma imensidão de dados é também porque está livre de toda e qualquer alteridade. É, por excelência, uma máquina positiva. Tornar essa positividade uma qualidade a ser imitada é uma estupidez a qual temos aderido.
Há anos ouvimos tantos repetindo por aí: “Estou cansad@”. O cansaço, diz Han, é mais do menos eu. Mas a tragédia é que “o menos no eu se expressa como um mais para o mundo”. E, assim, a sociedade do cansaço, enquanto uma sociedade ativa, desdobra-se lentamente numa sociedade do doping. E leva a um “infarto da alma”.
Senhor e escravo ao mesmo tempo, temos uma chance enquanto houver também um rebelde. Escutá-lo é preciso. Anestesiá-lo não é.
Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email:elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html

7 diferenças entre religião e espiritualidade

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Escrito por Eu Sem Fronteiras
A
 palavra religião existe desde o século 13. É de origem latina e vem derelegere (reler, revisitar, retomar). Pode ser interpretada como reler e interpretar documentos religiosos. O português Francisco Rodrigues dos Santos Saraiva, especialista em latim, considera o verbo relegere a verdadeira origem da palavra religião. Entretanto, há quem defenda que a palavra tenha origem no verbo religare (religar, atar, apertar). Nesta concepção, a religião liga a humanidade ao divino. A versão é considerada demasiadamente romântica. Autores clássicos relatam que o verbo religare era usado com o sentido de enfeixar lenha ou prender os cabelos.  

Religião é acreditar em um ser superior, conjuntos de crenças e cultos.
Seitas, mitologias e doutrinas que sejam regidas por um termos metafísicos são consideradas religiões. Podemos dizer a religião é um conjunto de narrativas, símbolos e tradições cujo objetivo é explicar e direcionar a existência. Elas possuem hierarquias, ou seja, pessoas que ocupam uma determinada posição dentro da organização. A transição entre um posto e outro se dá pelos conhecimentos sobre os rituais, pelo trabalho desenvolvido e pela indicação de quem está nas posições de destaque.
As mais frequentes práticas religiosas são os cultos de adoração, orações, casamentos e funerais. Artes plásticas, música e canto também integram o quadro de práticas religiosas. A arte sacra serve aos rituais litúrgicos. Ela demonstra a perfeição divina, provoca emoções simples e reforça os fundamentos religiosos. Quadros e esculturas em barro são as grandes expressões da arte sacra. O canto gregoriano tem origem nas antigas sinagogas, nos tempos de Jesus Cristo. O nome dessa que é a mais antiga manifestação musical no Ocidente é uma homenagem ao papa Gregório Magno (540-604). A constituição do canto gregoriano como gênero foi entre os séculos I ao VI. O ponto alto começou no século VII e durou até o século X. No século XI, início da Idade Média, o canto gregoriano conhece o ostracismo.
As religiões possuem dogmas. Os dogmas são crenças às quais não se admitem contestações. Nas religiões, são verdades reveladas pelo divino. A Igreja Católica possui 43 dogmas. A existência de Deus, o batismo, o perdão dos pecados após o batismo e a condenação ao inferno a quem negou a existência de Deus são alguns dos dogmas católicos.
Espiritualidade
Espiritualidade vem do latim “spiritus”. São crenças, atitudes e práticas que levam ao transcendente. Enquanto a religiosidade é encarada como um fervor em cumprir ritos e acreditar em dogmas, a espiritualidade é uma busca pelo bem-estar interior dentro do amor professado por Deus. A espiritualidade está ligada ao conhecimento da alma humana, a fé em suas habilidades, acreditar que estamos neste plano para cumprir uma missão – amar a nós mesmos, semearmos o amor entre nossos pares e também a todos que estejam procurando a paz. Niura Pandula, neuropediatra e pesquisadora da Universidade Paulista de São Paulo (UNESP) define a espiritualidade como a prática da ética, moral e solidariedade. A espiritualidade pode ou não estar vinculada a uma religião.
Ateísmo x espiritualidade
O ateísmo é a não crença em divindades. Os ateus utilizam argumentos filosóficos, sociais e históricos para defender sua descrença. Entretanto, há quem defenda um ateísmo com espiritualidade. O escritor, filósofo e neurocientista americano Sam Harris, autor dos livros A morte da fé (2004) e Carta a uma Nação Cristã (2006), uma carta às duras críticas que recebeu pelo livro anterior, é uma dessas pessoas. Harris afirma que o mundo corre perigo ao não questionar as crenças religiosas. Harris vai além, para ele as religiões são “cheias de ideias más” e que são “uma das mais perversas utilizações da inteligência já inventadas”.
Harris afirma que o “potencial espiritual” nada tem a ver com religião. Na Índia, ele aprendeu técnicas de controle metal e autoconhecimento, especialmente budismo e meditação transcendental. Para ele, a obediência exigida pelas religiões sob a promessa de vida eterna explica a ignorância e guerra. Entre essas e outras, Sam Harris é considerado por religiosos americanos o ateu mais perigoso dos Estados Unidos.
Espiritualidade e saúde
Acreditar na existência de uma força superior faz bem à saúde. William Osler, médico canadense considerado um dos ícones da medicina moderna já dizia isso em 1910. Osler afirmou “a fé despeja uma inesgotável torrente de energia”. A espiritualidade auxilia a combater o estresse, raiva, amargura e depressão. De acordo com Ricardo Monezzi, pesquisador e psicobiólogo do Instituto de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), esta energia atua no sistema límbico, área responsável pelas emoções. A espiritualidade também fortalece o sistema imunológico.
As pessoas espiritualizadas, tendo ou não religião têm mais qualidade de vida. Os índices de hipertensão e doenças cardíacas são mais baixos. Elas se alimentam melhor, possuem menos tendência ao tabagismo e alcoolismo. Pesquisas também comprovam que a espiritualidade ameniza os sintomas de doenças crônicas, como a AIDS e o câncer. A fé faz o indivíduo ter pensamentos positivos, o que é essencial para enfrentar qualquer problema. O paciente aceita o tratamento e segue todas as recomendações médicas, pois, sabe que elas farão a diferença. O tempo de internação é menor para quem possui fé.
A espiritualidade torna as pessoas mais felizes. Elas são altruístas, se envolvem menos em brigas e apresentam taxas de suicídio menores que as pessoas sem fé. Monezi relata que indivíduos espiritualizados não se desesperam diante as adversidades, porque sabem que não estão desamparadas.
Vejam excelentes motivos para cultivar sua espiritualidade:
  • Sistema imunológico mais eficaz.
  • Melhoria na saúde vascular.
  • Sentem-se fortes diante qualquer adversidade.
  • O tempo de internação é bem menor em relação aos que não possuem fé.
  • São menos propensos a depressão e demais doenças da alma. Se entram em depressão, a recuperação é mais rápida.
  • Tem menos riscos de ter hipertensão, acidente vascular cerebral (AVC) e doenças coronarianas.
  • Apresentam baixos índices de mortalidade.
As diferenças entre religião e espiritualidade
Falamos o que é religião e o que é espiritualidade. Falamos um pouco sobre a espiritualidade dos ateus. Explicamos como a fé atua no corpo humano. Agora, vamos detalhar as sete diferenças entre religião e espiritualidade.
  • Espiritualidade mantém suas asas
As religiões possuem dogmas. Quem segue uma religião segue cegamente essas verdades absolutas. Os que “ousam” contestar são condenados a irem para o inferno. Na espiritualidade, quem diz o que é/está certo é o seu coração. Suas asas são mantidas e você tem a liberdade de buscar conhecimentos onde quiser.
  • Espiritualidade = coragem
A religião mostra o que você deve temer. A espiritualidade mostra que você é responsável pelos seus atos, sem tirar sua coragem para fazer o que deseja. A espiritualidade ensina a como controlar o medo.
  • Espiritualidade leva você a descobrir a sua verdade
A religião diz no que você deve acreditar. A espiritualidade oferece liberdade para que cada um descubra a sua verdade. Observar o ambiente, as pessoas e principalmente a si próprio é a chave para esta descoberta.
  • Espiritualidade une as religiões
Existem várias religiões. Cada uma apresenta suas verdades como únicas. Para a espiritualidade não existe uma religião melhor ou pior que a outra. A espiritualidade consagra o melhor das mensagens de cada uma delas.
  • Espiritualidade = independência
A religião diz que somente o cumprimento dos ritos faz a pessoa feliz. A espiritualidade diz que a felicidade mora em nosso coração, cabendo a cada um encontrar essa benção, independente do lugar que estamos ou de quem nos acompanha.
  • Espiritualidade explica o karma
A espiritualidade nos faz perceber que o “castigo” que recebemos são as reações provocadas por nossos atos. Se tratarmos mal as pessoas, recebemos o mesmo de volta.
  • Espiritualidade deixa você livre para trilhar seu caminho
As diferenças entre religião e espiritualidade vão além. Para falar a verdade, poderíamos fazer um artigo inteiro somente com os diferenciais. Porém, precisamos deixar claro que não estamos incentivando nenhum boicote às religiões. A questão é que muitas pessoas se dedicam com tanto fervor que ficam alienadas.
O fanatismo religioso é uma doença que traz muitos males. Alguns fanáticos chegam ao ponto de abandonarem o convívio familiar, privam-se do convívio entre amigos, tudo porque os “mentores” de sua religião tornam-se mais importantes. A intolerância é outro mal do fanatismo religioso. Há quem condene os homossexuais e afirmem que estes irão pagar pelos seus “pecados” no inferno. Projetos em prol da “cura gay” são apresentados e defendidos por políticos que em vez de apresentarem e defenderem projetos para melhorar a saúde, educação, etc. tentam impor suas convicções a todo custo.
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Para falar a verdade, os verdadeiros religiosos não são intolerantes. O respeito é uma marca de quem realmente vive de acordo com os ensinamentos cristãos. Para os verdadeiros religiosos, não existe essa história de “a minha religião é melhor que a sua” ou “o meu Deus é melhor que o seu”. Eles respeitam todas as crenças, a descrença, orientação sexual, enfim, respeitam as diferenças porque não se sentem ameaçados por quem não reza como ele e possui outros pontos de vista.

A religião não deve aprisionar, quando ela diz que você deve se separar de determinadas pessoas, tem algo muito estranho no ar.
Quando uma religião diz que ela é melhor que a outra, está tomada pela intolerância e pela vaidade. Ninguém é melhor que ninguém. As religiões nada mais são que formas diferentes de chegar a Deus.
Muitos procuram religiões para saber o que devem fazer. Querem que alguém entregue uma apostila para aprenderem a ser bondosos consigo e com o próximo. Nessa apostila vem uma série de dogmas, verdades inventadas baseadas em absurdos, que são sustentadas por argumentos ainda mais absurdos.  Um exame de consciência é a melhor forma para saber quais atitudes tomar.
Religiões não podem provocar medo.
Quando você solta um palavrão ao bater o dedão do pé na quina da estante e achar que Deus vai lhe castigar por isso, porque o líder da sua religião falou isso, você vive em estado de sofrimento.
A verdadeira espiritualidade traz paz interior.
Não há nada de errado em seguir uma religião. O perigo são as situações apresentadas acima. Quando se identificar com alguma, visite o templo, frequente os cultos, converse com os fieis e com o líder daquela religião. Estude, obtenha máximo de informações.
O conhecimento impedirá você de entrar em enrascadas:

– Algumas religiões inventam. A verdadeira espiritualidade faz você descobrir o verdadeiro amor.

– Algumas religiões empurram verdades goela abaixo. A verdadeira espiritualidade mostra a importância de discutir e conhecer outros pontos de vista.

– Algumas religiões proíbem tudo e transformam as pessoas em robôs. A verdadeira espiritualidade deixa você livre, dessa forma, você descobre sua essência.

– Algumas religiões vivem do ego. A verdadeira espiritualidade nos faz transcender.

– Algumas religiões exigem que você renuncie tudo para provar sua fidelidade. A verdadeira espiritualidade é viver em Deus.

– Algumas religiões prometem a glória e o paraíso. A verdadeira espiritualidade mostra como viver a glória e o paraíso aqui e agora.

– Algumas religiões vivem no passado. A verdadeira espiritualidade mostra a importância de viver o presente.

– Algumas religiões celebram o pensamento. A verdadeira espiritualidade nos faz viver na consciência.

– Algumas religiões aprisionam nossa memória. A verdadeira espiritualidade floresce nossa consciência.

– Algumas religiões vivem de fanatismo. A verdadeira espiritualidade é admirar a beleza da vida. A verdadeira espiritualidade é meditação, autoconhecimento.

– A verdadeira espiritualidade busca a beleza contida em todos os livros sagrados.

– A verdadeira espiritualidade nos conscientiza sobre a vida eterna.

– A verdadeira espiritualidade nos ensina a encontrar Deus em nosso interior ao longo da vida.

– A verdadeira espiritualidade não quer que você sinta medo.

– A verdadeira espiritualidade se alimenta da confiança e na fé

– A verdadeira espiritualidade prioriza o ser.
Sinta-se livre para ter uma religião. Sinta-se livre para não ter uma religião, caso não se identifique com nenhuma. Mas conheça as diferenças entre religião e espiritualidade. Toda forma de conhecimento é válida. Quando alguém condenar você por não ter uma religião, apresente alguns tópicos discutidos aqui. Se a pessoa não ficar convencida, você fez a sua parte.
Para terminar esta conversa, nada melhor que a frase do médico e pesquisador Francisco Habermann:
A espiritualidade independe de qualquer formalidade e ultrapassa o de religião.

  • Escrito por Sumaia Santana da Equipe Eu Sem Fronteiras.
https://www.eusemfronteiras.com.br/7-diferencas-entre-religiao-e-espiritualidade/