Uma análise psicológica: em busca de nossa própria alma



Quantas vezes você já perdeu o sentido da vida?

Não raramente observamos pessoas buscando por um novo sentido ou tentando reencontrar um para viver. Dentro da Psicologia Analítica, pode-se considerar a falta de sentido e a falta de algo essencial, como “perda da própria alma”. Para a psicologia analítica, a alma pode significar um todo. Um todo que é fundamental para que sejamos completos e mais felizes.
Dentro disso, podemos considerar três fatores importantes: o primeiro, é de que a de que a alma não é superstição nem figura de retórica; o segundo, é de que a alma é uma realidade psicológica; e o terceiro, é de que a alma é vivida psiquicamente de maneira inconsciente por cada ser humano. É com base nisso que Carl Gustav Jung concebe a psique como a própria alma humana.
Pensando sobre o significado de alma dentro da psicologia analítica e do poder transformador que exerce sobre cada ser humano, fica claro que, sem ela, nós simplesmente existimos. E não se esqueça: existir não é viver.
Não raro, perdemos a nossa alma e, por algum motivo, não lembramos onde é que a perdemos e não temos força para resgatá-la e fazer dela uma alma vívida novamente, de forma que nos traga a completude que tanto buscamos.
Talvez você tenha a perdido quando criança diante das circunstâncias difíceis em que a vida te colocou, ou até mesmo quando adulto, após um relacionamento falido que endureceu completamente o seu coração. E que, desde então, você não sabe como e o que fazer para simplesmente restabelecer contato com ela.
Há centenas de pessoas pelo mundo que, neste exato momento, inconscientemente, buscam por suas almas e pela alegria de viver que só ela é capaz de proporcionar a cada um.
Buscar pela sua alma, perdida em algum momento de sua história é uma verdadeira aventura. E, como todas as aventuras, você terá de restabelecer contato com seu herói interior, afinal, haverá momentos em que você sentirá medo e sentirá que está completamente sozinho, porque precisará abrir mão de coisas que fizeram ou que se permanecem ainda, dentro da tua história, farão com que você a perca de vista novamente.
Mas, como todas as aventuras, também haverá momentos felizes, nos quais você se (re)descobrirá e se (re)inventará novamente de uma forma ainda mais bonita. E será justamente através desta (re)descoberta, (re)invenção e contato com o seu herói interior, que você terá coragem de voltar ao capítulo mais doído de sua história, no qual você a perdeu.
Lembre-se: não tenha medo da aventura de ir ao encontro de sua alma perdida, afinal, como disse Campbell (1990) em seu livro “O poder do mito”:
“Não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos enfrentaram antes de nós. Temos apenas que seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um Deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ao centro de nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.”
E se por acaso, nesta grande aventura, você reencontrar sua alma, por favor, não permita com que você a perca novamente. Sua alma é quem você é – e é o que dá sentido à tua jornada aqui nesta terra.

https://pt.aleteia.org/2018/12/28/uma-analise-psicologica-em-busca-de-nossa-propria-alma/

15 Lições de vida importantes que Santo Agostinho nos deixou


Principal filósofo do período da filosofia conhecido como Patrística, Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho foi um filósofo da idade média cujo trabalho ajudou a fundar as bases da filosofia adotada pela Igreja Católica, bem como levantar questões que influenciaram a toda a história posterior da filosofia.
Até Agostinho os filósofos cristãos defendiam que o fundamento e a essência da vida deveriam ser a fé, particularmente, a fé cristã. A partir da fé os homens tomariam decisões importantes em suas vidas e realizariam os julgamentos morais, para a razão era legada a atuação na vida cotidiana, em decisões menores e rotineiras. Agostinho, por outro lado, conhecedor da filosofia por traz de diversas religiões e muito bem versado em filosofia geral, buscava na razão a justificativa para a fé.
Entre os muitos tópicos nos quais trabalhou, explorou a questão da liberdade humana, na forma do livre arbítrio, defendendo que a Graça Divina seria o elemento garantidor da liberdade. Formulou ainda a doutrina do pecado original e a teoria da guerra justa.
Segundo Agostinho, os cristãos deveriam ser filosoficamente e pessoalmente pacifistas. Isto significa dizer que os cristãos deveriam defender a paz, optando por ela por princípio, sempre que possível, mas permite que, quando não for possível estabelecer a paz, faça-se a guerra. Entendeu que uma postura pacifica perante um mal que apenas poderia ser parado pela violência é um pecado, uma vez que permite a perpetuação deste mal.
Agostinho deixou um legado gigantesco, com importantes frases que, independentemente da sua religião, te farão refletir sobre o modo como você encara a vida.
Selecionamos algumas mensagens de Santo Agostinho que são verdadeiros ensinamentos, seja você cristão ou pagão.
Qual o limite do amor?
“A medida do amor é amar sem medida” – Santo Agostinho
O amor é uma daquelas coisas que não conhece o excesso. Quando o sentimento é verdadeiro e sadio, não existem motivos para medi-lo ou limitá-lo. Ame sem limites!
Não faça por fazer…
“Não basta fazer as coisas boas, é preciso fazê-las bem.” – Santo Agostinho
Para que algo dê certo – seja uma tarefa, plano ou objetivo – precisamos de determinação e comprometimento com aquilo que desejamos cumprir. A vontade é importante, mas não vale de nada sem o esforço, o empenho e o compromisso.
Por isso, coloque o seu coração em tudo o que for fazer. Não se contente em finalizar metas, mas em aprender durante o percurso e dar o melhor de si em cada novo desafio!
Aprenda a esperar para aprender
“Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência” – Santo Agostinho
Ter paciência é uma das lições que mais custa aprender para a maioria das pessoas. Vivemos numa geração acostumada com o imediatismo das coisas. Mas, nem tudo na vida acontece no momento que você quer… Devemos aprender a esperar. Este é um dos passos mais importantes rumo à sabedoria.
Avance para as próximas páginas!
“O mundo é um livro e quem fica sentado em casa lê somente uma página.” – Santo Agostinho
O mundo é muito mais do que os seus olhos podem ver! Permita-se explorar e conhecer sentimentos, lugares e costumes que estão fora da sua “zona de conforto”.
Não viva preso no seu “cubo de vidro”, onde tudo é familiar e fácil. Vá, saia, experimente, caia e levante-se algumas vezes! Somente assim conseguirá conhecer o mundo e saber como é realmente viver nele…
A verdade (quase sempre) dói
“As pessoas costumam amar a verdade quando esta as ilumina, porém tendem a odiá-la quando as confronta.” – Santo Agostinho
A verdade nem sempre será aquilo que desejamos ouvir. Precisamos estar conscientes de que não somos perfeitos… Todos erram, mas é na tentativa de melhorar e mudar que crescemos e nos fortalecemos.
Em constante renovação
“Nada estará perdido enquanto estivermos em busca.” – Santo Agostinho
“Mesmo que já tenha feito uma longa caminhada, sempre haverá mais um caminho a percorrer.” – Santo Agostinho
Não dê nada como garantido. Por mais longa que tenha sido a busca ou a caminhada, nunca desista de continuar seguindo. Sempre há algo de novo espreitando nas esquinas da vida. Fique atento!
O que deve ser realmente importante para você
“Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és.
A verdadeira felicidade não consiste em ter muito, mas em contentar-se com pouco.” – Santo Agostinho
“Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.” – Santo Agostinho
As coisas nem sempre podem sair como planejamos, mas quando são feitas com os “ingredientes” certos, pode ter a certeza que tudo valerá a pena.
Três regras básicas
“Conhece-te, aceita-te, supera-te.” – Santo Agostinho
São três etapas muito importantes que constantemente precisamos ultrapassar.
Ligações que são essenciais
“necessitamos um do outro para sermos nós mesmos.” – Santo Agostinho
Fortalecendo o que realmente vale a pena
“Preocupas-te se a árvore de tua vida tem galhos apodrecidos? Não percas tempo; cuida bem da raiz e não terás de andar pelos galhos.” – Santo Agostinho
Agostinho se refere à importância de priorizarmos e valorizarmos a nossa essência, o nosso núcleo, a nossa base. Se você tiver bons princípios, por mais que alguns ramos da sua vida se quebrem, você nunca definhará. O fator principal para a reconstrução está na sua essência!
Eliminando o mal pela fonte…
“O orgulho é a fonte de todas as fraquezas, porque é a fonte de todos os vícios”. – Santo Agostinho
As filhas da Esperança
“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.” – Santo Agostinho
Uma é espelho da outra
“Onde não há caridade não pode haver justiça.” – Santo Agostinho
Compartilhe com o mundo aquilo que você gostaria que fosse partilhado contigo. Por mais “feia” e “grosseira” que a humanidade possa parecer, às vezes, tudo o que precisamos para mudar as energias ao nosso redor é encher o mundo com o máximo de coisas boas.
https://www.pensarcontemporaneo.com/15-licoes-de-vida-importantes-que-santo-agostinho-nos-deixou/

Étienne de La Boétie: Como nos escravizamos



Desde o nascimento da civilização, os governantes tirânicos atormentaram a humanidade. Impulsionados por um apetite insaciável pelo poder, esses indivíduos têm feito o melhor que podem para controlar tanto a mente quanto o corpo de seus súditos. Visto sob esta luz, a história da civilização é uma história de vários graus de escravização humana.
Especialmente no caso de regimes mais autoritários, tem sido comum supor que as massas são meramente vítimas de sua escravização, incapazes de montar qualquer forma de resistência devido à ameaça da força exercida pelos que estão no poder.
No século 16, o filósofo francês Etienne de La Boétie desafiou essa visão em seu ensaio The Discourse on Voluntary Servitude (O Discurso da Servidão Voluntária). Todos os governos, ele argumentou, incluindo os mais tirânicos, só podem governar por longos períodos se tiverem o apoio geral da população. Não só os que estão no poder são em grande desvantagem em número daqueles sobre os quais eles governam, mas os governos confiam nas populações subjugadas para fornecer-lhes um suprimento contínuo de recursos e mão de obra.
Se um dia um número suficiente de pessoas se recusasse a obedecer e deixasse de entregar sua riqueza e propriedade, seus opressores, nas palavras de La Boétie, “Tornar-se nu e desfeito e nada, assim como, quando a raiz não recebe alimento, o ramo murcha e morre.” (Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária) Portanto, a submissão em massa até mesmo aos regimes políticos mais opressivos é sempre uma servidão voluntária, baseada no consentimento popular. Como de La Boétie explica:
“Obviamente, não há necessidade de lutar para superar este tirano único, pois ele é automaticamente derrotado se o país recusar o consentimento para sua própria escravização: não é necessário privá-lo de nada, mas simplesmente não lhe dar nada; não há necessidade de que o país faça um esforço para fazer tudo por si mesmo, desde que não faça nada contra si mesmo. São, portanto, os próprios habitantes que permitem, ou melhor, provocam sua própria sujeição, pois, deixando de se submeter, acabariam com sua servidão. Um povo se escraviza, corta sua própria garganta, quando, tendo uma escolha entre ser vassalos e ser homens livres, deserta suas liberdades e assume o jugo, dá seu próprio sofrimento, ou melhor, aparentemente o recebe. ”( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária )
Neste artigo, vamos explorar os insights de La Boétie sobre por que as pessoas ao longo da história e nos dias modernos agiram contra seus melhores interesses e consentiram em sua escravização.
A maioria dos animais exibe um instinto natural de ser livre. Quando é feita uma tentativa de capturar um animal, ele foge aterrorizado ou reage com agressiva agressão. Quando tomado de seu habitat natural e colocado em cativeiro, seu vigor inato atrofia e é substituído por letargia e desânimo. A domesticação bem sucedida de uma espécie, portanto, geralmente requer inúmeras gerações de reprodução seletiva, a fim de erradicar o instinto do animal de vagar e viver livre. La Boétie afirma que nos seres humanos esse instinto de liberdade é especialmente pronunciado. Vários fatores sociais, no entanto, atrofiaram esse instinto natural ao longo do tempo, a ponto de agora “o próprio amor à liberdade não mais parecer natural” ( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária ).
Um desses fatores, segundo La Boétie, é “a poderosa influência do costume”, ou seja, nossa tendência a nos acostumarmos às condições sociais e políticas em que nascemos. Assim como um animal nascido em cativeiro nada sabe da liberdade que lhe falta e, portanto, não resiste a suas cadeias, os nascidos na escravidão do Estado também não têm o conhecimento do que significa ser livre, e assim tendem a aceitar sua servidão como se fosse natural. Quando alguém passa seus anos de formação observando aqueles que os rodeiam não resistindo a seus opressores, mas aceitando-os, e até adorando-os, os efeitos do costume tendem a superar o instinto natural de liberdade, e a submissão torna-se habitual.
“É verdade que no princípio os homens se submetem sob restrição e pela força; mas aqueles que vêm depois deles obedecem sem se arrepender e executam de bom grado o que seus antecessores fizeram porque tiveram que fazê-lo. É por isso que os homens nascidos sob o jugo e depois nutridos e criados na escravidão estão contentes, sem mais esforço, em viver em sua condição nativa, desconhecendo qualquer outro estado ou direito, e considerando como natural a condição em que nasceram. ”( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária )
Mas o costume por si só não explica a prontidão com que as pessoas consentem em sua servidão, já que as classes dominantes sabem há muito tempo que, para manter o poder, elas devem desempenhar um papel ativo no consentimento da engenharia. “Jogos, farsas, espetáculos, gladiadores, animais estranhos, medalhas, imagens, e outros tais opiáceos, estes eram para os povos antigos a isca para a escravidão, o preço de sua liberdade, os instrumentos da tirania.” (Étienne de La Boétie, Discurso sobre a Servidão Voluntária) Nos dias modernos, esses instrumentos de tirania mudaram de forma, mas sua essência permanece a mesma. O suprimento infinito de diversões irracionais fornecidas pela mídia de massa e indústria do entretenimento, os efeitos entorpecedores das drogas farmacêuticas,

Outra tática para o consentimento de engenharia usada pelos tiranos antigos era análoga ao que hoje chamamos de estado de bem-estar social. La Boétie observa que em determinados dias do ano as classes dominantes costumavam distribuir pão, vinho e um pouco de dinheiro para seus súditos, e logo depois aqueles que estavam contentes e satisfeitos gritavam “Viva o Rei!”:
“Os tolos não perceberam”, escreve La Boétie, “que eles estavam meramente recuperando uma parte de sua propriedade, e que seu governante não poderia ter dado a eles o que estavam recebendo sem primeiro tê-los tirado.” ( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária )
Mas o pão e os circos proverbiais não são os únicos instrumentos de tirania, pois as classes dominantes há muito tentam evocar não apenas o consentimento, mas a adoração e reverência de seus sujeitos, cooptando técnicas usadas pelas religiões para fazer com que sua autoridade pareça sagrada. Mitos, rituais, o uso de simbolismo religioso e de culto, e a construção de edifícios simbolizando poder e autoridade e assemelhando-se a locais de culto, têm sido usados ​​por classes dominantes para tomar emprestado, nas palavras de La Boétie, “um pouco perdido da divindade”. para reforçar os seus maus caminhos. ”( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária )
Apesar do fato de que a servidão voluntária a uma classe dominante política tem sido a norma ao longo da história, La Boétie não considera inevitável que esta situação continue indefinidamente. Pois assim como sempre existiram aqueles que buscam governar e explorar os outros, também em todas as épocas existem indivíduos que se rebelam instintivamente contra qualquer forma de servidão e, assim, são torturados pelas correntes que outros parecem não notar. “Mesmo que a liberdade tenha perecido inteiramente da terra”, observa La Boétie, “esses homens teriam que inventá-la. Para eles, a escravidão não tem satisfação, por mais bem disfarçada que seja. ”( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária)
Aqueles que compõem essa elite de vanguarda da elite dedicam grande parte de seu tempo à educação e ao desenvolvimento de suas capacidades críticas, a fim de despertar os outros para a natureza nefasta e enganosa do governo político. Este trabalho é feito na percepção de que se uma massa crítica se torna consciente de sua escravização e do verdadeiro valor da liberdade, a servidão voluntária, em larga escala, terminará abruptamente, pois, como La Boétie explica:
“De todas essas indignidades, como as próprias feras do campo não resistiriam, vocês podem se livrar se tentarem, não agindo, mas apenas desejando ser livres. Resolva não servir mais e você é liberado imediatamente. Eu não peço que você coloque as mãos sobre o tirano para derrubá-lo, mas simplesmente que você não o apoie mais; então você o contemplará, como um grande Colosso cujo pedestal foi arrancado, caiu de seu próprio peso e se despedaçou. ”( Étienne de La Boétie, O Discurso da Servidão Voluntária )

Esse artigo é uma transcrição traduzida do vídeo How We Enslave Ourselves do canal Academy of Ideas

https://www.pensarcontemporaneo.com/etienne-de-la-boetie-como-nos-escravizamos/

Edgar Morin: demônio é sempre o outro


Morin filósofo, sociólogo, antropólogo e historiador e autor de mais de 60 livros de temáticas diversas e abrangentes. O intelectual francês é um dos principais pensadores do século XX na França, e coleciona títulos de doutor honoris causa em universidades ao redor do mundo. Aos 96 anos, Morin trouxe importantes reflexões sobre as transformações da sociedade ao longo do último século. Conferencista do Fronteiras do Pensamento em 2008 e 2011.
Muitos dos conflitos culturais, políticos e até mesmo militares que se vê na contemporaneidade são causados pela exaltação negativa do que nos diferencia dos outros, e não daquilo que temos em comum. A dificuldade de enxergar o estrangeiro como um igual afeta nosso sentido de humanidade e civilização. O filósofo Edgar Morin reflete, neste vídeo, sobre a incompreensão cotidiana que se coloca diante da diferença.

Também devemos reformar nossas vidas no sentido da compreensão do outro. Por quê? porque é notável que temos uma grande dificuldade para compreender um estrangeiro que tem costumes diferentes, ritos diferentes, crenças diferentes, ás vezes religiões diferentes. Temos dificuldade para compreender e sentir que ele é como nós, pois o especifíco das relações entre seres humanos é que o outro é, ao mesmo tempo, diferente e parecido conosco. Ele é diferente por sua singularidade, suas características prórpias, sua cultura, seu caráter. Mas ele é parecido conosco pela sua capacidade de sofrer, de amara, de chorar, de rir, de refletir.
Mas, esse problema de compreender o outro não existe somente em relação ao estrangeiro. Ele existe hoje no interior de nossas sociedades. Ele existe nas famílias. Há tanta incompreensão entre os casais que eles explodem e acontecem os divórcios. E às vezes há muita incompreensão entre pais e filhos, entre filhos e pais.
E por que existe tanta incompreensão na vida cotidiana, que envenena a vida cotidiana? Sentimos hostilidades mútuas uns com os outros e não apenas amizade, por quê? Porque não somos educados para conhecermos a nós mesmos, para conhecermos o outro. Porque cada um de nós sofre o que os ingleses chamam de ‘self-deception’, ou seja, a mentira a si mesmo. Cada um mente a si mesmo, quer esquecer suas fraquezas, suas carências e coloca o outro como vilão, o malvado que tem fraquezas e carências.

Publicação do canal Fronteira do Pensamento

O Lobo da Estepe, uma obra para refletir




Falar de Hermann Hesse é falar de um dos mais importantes escritores do século XX. Falar de Hesse é, naturalmente, falar de ‘Sidarta’, ‘Demian’ e, é claro, de ‘O Lobo da Estepe’. É importante salientar que além de romancista, Hermann Hesse também foi ensaísta e poeta.

Hesse é um autor muito documentado, cujas influências estão plasmadas em suas obras; estava fascinado pelo romantismo alemão, admirava Goethe e Nietzsche, mas também Mozart. Possuía fortes influências da filosofia indiana e chinesa. Ler Hermann Hesse é viajar por todas essas influências e culturas, mas também dentro de si mesmo, dentro da natureza humana.

‘O Lobo da Estepe’ é uma de suas obras mais reconhecidas e lidas pelos jovens durante o século XX. É uma obra curta, mas profunda, em que o autor combina alguns elementos fantásticos com seus próprios pensamentos e ideias. A trama é apresentada através de um conhecido recurso literário conhecido como manuscrito encontrado, ou seja, o autor se desvincula de sua obra e aparece um novo autor, o autor do manuscrito. Essa técnica foi utilizada durante toda a história literária, e aparece também em Dom Quixote de la Mancha.


“O tempo e o mundo, o dinheiro e o poder pertencem aos mesquinhos e superficiais, e nada coube aos outros, aos verdadeiros homens”.
-O Lobo da Estepe-

O autobiográfico em ‘O Lobo da Estepe’

É possível encontrar muitas semelhanças entre personagem e autor em ‘O Lobo da Estepe’. A obra corresponde a anotações escritas por Harry Haller, o protagonista, durante sua estadia em um quarto alugado. O sobrinho da locatária encontra as anotações e faz uma breve introdução.

O resto da obra é narrada em primeira pessoa e está dividida em: “Anotações de Harry Haller, só para loucos”, onde o protagonista é descrito como um “lobo da estepe”, expressa seus sonhos, delírios, pensamentos e desentendimentos; “Tratado do Lobo da Estepe, só para loucos”, um ensaio filosófico e psicológico que permite ao leitor mergulhar mais profundamente no mundo de Harry e entender sua personalidade. Por último, encontramos uma continuação de “Anotações de Harry Haller, só para loucos”.


A obra nos leva ao mundo de Harry, seus pensamentos e sentimentos. É um ser solitário que não consegue encontrar seu lugar no mundo, é um convite à reflexão para encontrar o sentido da vida em uma sociedade moderna, uma sociedade de massas na qual não parece haver lugar para intelectuais ou pessoas diferentes. Por esta razão, não é surpreendente que tenha sido amplamente lida entre o público adolescente, momento em que começamos a procurar o nosso lugar e a nos entender.


A obra é marcada pela autobiografia, é uma obra hermética, que critica a burguesia da época. É um trabalho que se aprofunda no protagonista, questiona sua personalidade e seu mundo interior.

Vemos nesta obra diferentes formas de vida a partir do isolamento por parte do protagonista. O mundo noturno também é descoberto, onde os prazeres chegam a extremos. Tudo é possível, não há regras e os personagens estão envolvidos em um universo de drogas, música, diversão e sexo.
Algumas das pistas dos aspectos autobiográficos são:
As iniciais: o protagonista de ‘O Lobo da Estepe’ se chama Harry Haller, cujas iniciais são as mesmas de Hermann Hesse.
Vivendo entre dois períodos: o autor e o protagonista vivem entre dois períodos, um período de transição, e ambos são solitários e incompreendidos.
A ideia de suicídio: o “não se encaixar”, essa doença dos intelectuais no século XX, está muito presente no trabalho. A ideia de suicídio é recorrente e o próprio Hesse tentou se suicidar.
A mulher: um dos eventos mais significativos na vida de Hesse foi seu divórcio. Ao longo da obra, várias reflexões sobre esse fato são feitas. Harry nos conta que ele era casado, mas sua vida familiar desmoronou devido à loucura de sua esposa e, dessa forma, ele se isolou e tornou-se o lobo da estepe.
Hermínia: ela é a personagem feminina mais significativa, seu nome é o feminino de Hermann e supõe uma divisão da personalidade, o outro lado do protagonista.

Esta descrição do protagonista corresponde à construção do arquétipo superfluous man, muito presente na literatura e que desenha um homem culto, inteligente e melancólico, particularmente niilista. Harry Haller sente que não pertence ao mundo em que vive, ele é um homem “superior”, um intelectual que se isola e vive em um “ser ou não ser” constante, tentando entender a si mesmo. Uma espécie de Hamlet do século XX.


“Como eu poderia não ser um lobo da estepe e um mísero eremita em meio a um mundo cujos objetivos não compartilho, cuja alegria não me diz respeito?”
-O Lobo da Estepe-
‘O Lobo da Estepe’, uma reflexão psicológica

‘O Lobo da Estepe’ apresenta as principais características da sátira menipeia, um gênero onde os personagens geralmente são homens intelectuais ridiculizados, algo que vemos no trabalho de Hesse, especialmente na parte final. A obra é uma reflexão que parte da agonia do protagonista e nos leva à busca pelo riso.

Harry Haller é um homem culto e mal compreendido que está convencido de que dentro dele vive um homem e um lobo que estão em conflito. Haller perdeu o interesse pela vida, é pessimista e nada que o rodeia o faz feliz, despreza o mundo em que vive e as pessoas que vivem nele. Sua vida não tem sentido, até encontrar um letreiro que o convida a ir a um lugar chamado Teatro Mágico.

O Teatro Mágico é como o coelho que persegue Alice em Alice no País das Maravilhas, é algo que chama sua atenção, embora, no início, Harry não se atreva a entrar. Alice chega a um mundo novo, completamente diferente do mundo em que ela está acostumada a viver, naquele lugar tudo é possível e ela deve enfrentar inúmeros dilemas. Ela não consegue se reconhecer, não sabe mais quem ela é; da mesma forma, esse chamado que Harry sente pelo Teatro Mágico é o início do novo mundo que ainda não foi descoberto.


No final do livro, Harry entrará no teatro e começará sua viagem por esse novo mundo: a verdadeira natureza de seu ser e sua complexidade. Através de brincadeiras, personagens históricas e situações excêntricas, descobriremos a verdadeira natureza deste homem-lobo, que deverá aprender a rir de si mesmo.

Neste lugar, Harry compreenderá que em seu interior vivem muitos “eus” e que todos eles convivem em uma espécie de partida de xadrez; ele não pode ficar limitado a homem ou lobo quando se trata de uma multiplicidade de personalidades.

‘O Lobo da Estepe’ nos apresenta um baile de máscaras (não metafórico) em que o protagonista deverá buscar a si mesmo. Uma obra hermética e reflexiva sobre o mal dos intelectuais de uma época que representa um estado de consciência.


“A esquizofrenia é o princípio de toda arte, de toda fantasia. Mesmo os homens instruídos chegaram ao reconhecimento parcial desta verdade, como se pode ler no Príncipe Wunder-horn, naquele livro encantado no qual o trabalho fatigante e atento de um sábio se vê imortalizado com a colaboração genial de um número de artistas loucos e recolhidos como tais”.

-O Lobo da Estepe-

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O adeus ao mundo



Esta é a famosa carta de Eugene (Pe. Seraphim) Rose a seus pais na qual comunica que abandonará a vida acadêmica para abraçar as coisas do Alto. É o testemunho contemporâneo de um ato exercido milhares e milhares de vezes no passado: homens que, respondendo ao chamado do Cristo, deixam para trás a glória e os prazeres ilusórios do mundo para abraçar a vida sublime e grandiosa do esforço ascético rumo à união com Deus.

A carta é de 14 de junho de 1961.

* * *

Liebe Eltern,

Faz calor hoje – parece até verão aqui em San Francisco. Finalmente consegui terminar minha dissertação de mestrado. Entreguei-a na sexta-feira passada, mas a nota só vai ser divulgada em setembro, não sei exatamente por quê. Enquanto isso, continuo me envolvendo com coisas chinesas. Nesse momento, estou ajudando meu ex-professor de chinês a traduzir (do chinês) um artigo sobre filosofia chinesa para publicação em um jornal de filosofia. A hipocrisia do mundo acadêmico é algo que se vê com muita clareza no caso dele. Ele provavelmente sabe mais de filosofia chinesa do que qualquer pessoa do país, estudou com filósofos e sábios chineses de verdade, na China, mas não consegue arrumar emprego em nenhuma faculdade porque ele não tem diplomas de faculdades americanas, e também porque ele não fala com muita fluência – ou seja, ele é autêntico demais.


Foi-se o tempo em que eu escolhia a vida acadêmica acima de tudo, pois Deus havia me dado inteligência para servi-Lo, e o mundo acadêmico seria em princípio o lugar onde a inteligência deveria ser utilizada. Mas, depois de oito ou nove anos, sei muito bem o que se passa nas universidades. A inteligência é respeitada somente por alguns poucos professores “das antigas”, os quais muito em breve estarão fora de combate. Quanto aos demais, a vida acadêmica é um trampolim para juntar dinheiro, conseguir um emprego estável e para usar a inteligência como se fosse um brinquedinho útil para fazer alguns truques e serem pagos por isso. Em suma, são palhaços de circo. O amor à verdade simplesmente desapareceu deles; as pessoas que têm alguma inteligência são obrigadas a se prostituírem para viver a vida. Quanto a mim, acho isso tudo difícil de aceitar, pois meu amor à verdade é muito grande. O mundo acadêmico não passa de um emprego para mim, mas não vou me deixar escravizar a ele. Não estou servindo a Deus no mundo acadêmico. Tenho um pouco de dinheiro guardado e mais algum está a caminho quando eu terminar um pequeno serviço, então eu acho que vou conseguir viver frugalmente por um ano fazendo o que minha consciência está me mandando fazer: escrever um livro sobre as condições espirituais do homem contemporâneo, sobre as quais, pela graça de Deus, tenho algum conhecimento. O livro provavelmente não vai vender nada, pois as pessoas preferem se esquecer das coisas sobre as quais versarei; elas preferem ganhar dinheiro do que adorar a Deus.


Sim, é verdade que esta é uma geração confusa. A única coisa de errado comigo é que não estou confuso. Sei muito bem qual o dever do homem: adorar a Deus e Seu Filho e preparar-se para a vida do século futuro sem explorar o próximo só para ter uma vida feliz e confortável e esquecer-se de Deus e Seu Reino.


Se Cristo estivesse por aqui, no mundo contemporâneo, sabem o que aconteceria com Ele? Seria internado num hospital psiquiátrico e lhe submeteriam a sessões de psicoterapia. Os santos não ficariam por menos. O mundo crucificaria o Cristo exatamente como há 2000 anos, pois esse mundo nada aprendeu, exceto formas mais sofisticadas de hipocrisia. E se eu dissesse a meus alunos que todo o conhecimento deste mundo não tem nenhuma importância, que o importante mesmo é adorar a Deus, aceitar o Deus-homem que morreu por nossos pecados e preparar-se para a vida do século futuro? Eles provavelmente ririam de mim, e os diretores da universidade, se descobrissem, me demitiriam – pois é contra a lei pregar a Verdade nas universidades. Dizem que vivemos numa sociedade cristã, mas é mentira: a sociedade atual é mais pagã, mais anticristã, do que a sociedade na qual Cristo nasceu. Recentemente, um padre católico da UCLA teve a audácia de dizer que o ambiente da UCLA era pagão. Os diretores da universidade o chamaram de “fanático” e “insano”. Mas o que ele disse era verdade; mas os homens odeiam a verdade, e é por isso que eles crucificariam Cristo de novo se Ele retornasse.


Sou cristão, e tentarei viver como um autêntico cristão. Cristo ensinou-nos a dar todo o dinheiro que tivéssemos e segui-Lo. Estou longe, muito longe, de fazer isso. Mas vou tentar não angariar mais dinheiro do que preciso para viver; se conseguir fazer isso trabalhando um ou dois anos na universidade, tudo bem. Mas no restante do meu tempo vou tentar servir a Deus com os talentos que Ele me deu. Neste ano terei a chance de fazer isso, então é isso que vou fazer. Meu professor, que é russo (a amor a Deus parece estar mais bem enraizado nos russos do que em outros povos), não tentou me convencer a abandonar minhas ideias; ele sabe muito bem que o amor à verdade, o amor a Deus, é infinitamente mais importante do que o amor à estabilidade, ao dinheiro e à fama.


Sou obrigado a seguir minha consciência. Não posso enganar a mim mesmo. E sei que estou fazendo a coisa certa. Se o que vou fazer parece tolice aos olhos do mundo, resta-me responder ao mundo com as palavras de São Paulo: Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus. Eis algo que esquecemos muito facilmente.


Bem, deixem-me voltar à minha tradução de chinês. Mandem lembranças a Eileen [irmã de Eugene].


Liebe,


Eugene


Foto: Eugene Rose em foto oficial de graduação na Pomona College, 1956.


Fonte: Cathy Scott, Seraphim Rose: The True Story and Private Letters, Regina Orthodox Press, 2000.

Um lugar não vai nos salvar



"Um lugar não vai nos salvar, se não cumprirmos a vontade de Deus." Houve um monge que viveu em um mosteiro onde cinco irmãos o amavam e um irmão o ofendia. Por causa deste irmão que o ofendia, ele se mudou para outro mosteiro. No entanto, neste mosteiro oito dos irmãos o amavam e dois dos irmãos o ofendiam. Ele então fugiu para um terceiro mosteiro. Mas aqui, sete dos irmãos o amavam e cinco dos irmãos o ofendiam. Ele se colocou a caminho de um quarto mosteiro, mas ao longo do caminho ele pensou: "Quanto tempo vou fugir de um lugar para outro? Não encontrarei paz em todo o mundo. Seria melhor para mim tornar-me paciente." Ele pegou um pedaço de papel e escreveu em letras garrafais: "Eu vou suportar tudo por causa de Jesus Cristo, o Filho de Deus." Quando ele entrou no quarta mosteiro, aqui também alguns o amavam e outros o ofendiam. Mas ele pacientemente suportou as ofensas. Assim que alguém o ofendia, ele retirava aquele pedaço de papel e lia: "Eu vou suportar tudo por causa de Jesus Cristo, o Filho de Deus." Assim, com paciência, todos o amavam e ele permaneceu no mosteiro até sua morte.
#SãoJoãoCrisóstomo

O labirinto da mente e seus espelhos

Ver para fora é o espetáculo esperado de você para manter a insanidade de pé. Ver para dentro é o oposto de ver o outro – apesar de que, ulteriormente, quando você vê a si mesmo, vê que você também é o outro. Mas para um começo de conversa, ver a si mesmo tem somente uma função: ver a sua mente.
Diante disso, é preciso estabelecer que a sua mente não é você. Agora você chega a um outro patamar, a uma outra dimensão de clareza.
Há enorme função em ver a sua mente, porque a sua mente, como ela é, não é você, ela é o outro. A sua mente, por não ser você, é outro. Mas a mente não quer que você a veja como você-outro, porque senão você desperta.
Observação é o gás desse processo. Porém não está condicionado em você, não está estruturado em você ver a sua mente funcionando. A mente é sempre usada para ver o outro. E quando vê o outro, o que ela faz, fundamentalmente?
Participante – Julga.
Ela julga. É bom saber que você está observando a própria mente, porque é exatamente o que a mente faz ao ver o outro: ela não vê o outro, ela julga o outro. Mas se ainda não percebeu, está na hora de ver: a mente é cega.
Portanto, pare todo o movimento. Aquiete-se. E encontre a si mesmo onde o outro não existe. E, melhor ainda, onde o outro é você.

https://satyaprem.blog/2018/01/16/o-labirinto-da-mente-e-seus-espelhos/

NADA QUE VAI E VOLTA É VOCÊ


Por Eckhart Tolle

Em você, como em cada ser humano, existe uma dimensão de
consciência bem mais profunda que o pensamento. 

É a essência de quem você é. Podemos chamá-la de presença, de percepção, de consciência livre de condicionamentos. Nos antigos ensinamentos religiosos, essa consciência é o Cristo interior ou a sua natureza do Buda.

Se você consegue RECONHECER, mesmo esporadicamente, que os pensamentos que passam por sua cabeça são meros pensamentos, se você consegue dar conta dos padrões que se repetem em suas reações mentais e emocionais, é sinal de que essa dimensão de consciência está emergindo.
Ela é o espaço interno em que o conteúdo de sua vida se desdobra.

A corrente do pensamento tem uma enorme força que pode muito FACILMENTE levar você de roldão. Cada pensamento TEM A PRETENSÃO DE SER EXTREMAMENTE IMPORTANTE. Cada
pensamento quer SUGAR SUA COMPLETA ATENÇÃO.
Não leve seus pensamentos a sério! Com que facilidade as pessoas ficam aprisionadas nas armadilhas de seus pensamentos.

Como a mente humana tem uma imenso desejo de saber, de compreender e de controlar, ela confunde opiniões e pontos de vista com a verdade. Suas opiniões e pontos de vista não passam de um punhado de pensamentos. Mas a realidade é outra coisa. Ela é um todo unificado em que todas as coisas se interligam e nada existe em si e por si. Pensar fragmenta a realidade, cortando-a em pequenos pedaços, em pequenos conceitos.

A sabedoria não é um produto do pensamento. A sabedoria é um profundo conhecimento que vem do simples ato de dar total atenção a alguém ou a alguma coisa. A atenção é a inteligência primordial, a própria consciência. Ela dissolve as barreiras criadas pelo pensamento, levando-nos a reconhecer que nada existe em si e por si. A inteligência une a pessoa que percebe ao objeto percebido, num campo unificado de percepção. 

É A ATENÇÃO QUE CURA A SEPARAÇÃO.

Sempre que você mergulha em pensamentos compulsivos está impedindo o que existe. Você não quer estar onde está. AQUI. AGORA.

E qual a ilusão básica? É a identificação com o pensamento.

Despertar espiritualmente é despertar do “SONHO DO
PENSAMENTO”.

A mente funciona com “voracidade” e por isso está sempre querendo mais. Quando você se identifica com sua mente, fica FACILMENTE ENTEDIADO E ANSIOSO. 

O Tédio demonstra que a mente deseja avidamente mais estímulo, mais o que pensar, e que essa fome não está sendo saciada.

Quando você fica entediado, pode querer satisfazer a fome da mente lendo uma revista, dando um telefonema, assistindo TV, navegando na NET – ou o que é bem comum – transferindo a sensação MENTAL DE CARÊNCIA e sua necessidade de QUERO MAIS para o corpo e se satisfazendo TEMPORARIAMENTE comendo mais.

A alternativa é aceitar o tédio e a ansiedade e observar como é sentir-se entediado e ansioso. A medida que você se dá conta dessa sensação, SURGE DE REPENTE UM ESPAÇO E UMA CALMA EM VOLTA DELA.

Primeiro é o pequeno espaço interno, mas, à medida que esse espaço aumenta, o tédio começa a diminuir de intensidade e de SIGNIFICADO.

Dessa forma, até o tédio pode ensinar quem você É E QUEM NÃO É.

Você descobre que não é uma pessoa entediada. O tédio é simplesmente um movimento de energia condicionada dentro de você. 

Da mesma forma, você não é uma pessoa irritada, rancorosa, triste ou medrosa.

O tédio, a raiva, a tristeza e o medo não são seus, não fazem parte da sua pessoa. Eles são estados da MENTE HUMANA. E, por isso, vão e voltam.

NADA DAQUILO QUE VAI E VOLTA É VOCÊ!!!!

Livro: Eckhart Tolle - O Poder do Silêncio

O conteúdo

Seja qual for o conteúdo do momento presente, aceite-o como se você o tivesse escolhido. Sempre trabalhe com ele, não contra ele. Torne-o seu amigo e aliado, não seu inimigo. Isso vai milagrosamente transformar toda a sua vida.

<<ECKHART TOLLE>>