Você deve ter ouvido esse nome. Talvez até já tenha participado de um grupo de constelação. Mas se você não conhece muito o trabalho da Constelação, esse texto vai ajudar você a compreender.
A primeira “ouvida”, o nome pode causar estranhamento. Constelação? É algo relacionado com as estrelas?
Não. Na verdade, a constelação é algo bem ao contrário, algo bastante ligado ao chão, à nossa vida diária. Este é o nome dado ao trabalho terapêutico — e muitas outras aplicações dele — desenvolvido pelo psicoterapeuta alemão Bert Hellinger.
Seu nome original é Familienstellen que tem como significado “colocação familiar”. Nos Estados Unidos, o nome foi transformado em Family Constelations e no Brasil seguiu-se a tradução americana. A imagem da constelação, como um agrupamento de estrelas serve aqui ao propósito de ver o agrupamento familiar, e o lugar de cada um dentro desta “constelação”.
Bert Hellinger
O psicoterapeuta alemão é o primeiro percebedor desta ferramenta. Nascido na Alemanha em 1925 (completa 92 anos em 2017), é formado em Filosofia, Teologia e Pedagogia.
Por 16 anos, estudou viveu e trabalhou como missionário na Africa do Sul, como parte de uma Missão Católica. Dirigiu, durante este período, várias escolas de nível superior.
Após sua saída da igreja, tornou-se psicanalista, aprofundando-se em Dinâmicas de grupos, terapia primal, Análise transacional e de métodos hipnoterapêuticos.
Bert Hellinger
O desenvolvimento da Constelação familiar e os desdobramentos destes conhecimentos culminaram na indicação ao Nobel da Paz em 2011.
Bert não se define como desenvolvedor das constelações, mas como alguém que primeiro percebeu de forma empírica as influências entre membros de um sistema familiar, mesmo quando não havia convivência, como por exemplo, entre um bisavô e seu bisneto que não se conheceram.
Ele percebeu que há um campo que influencia a todos que participam de um mesmo sistema, mesmo que não haja convivência direta entre seus integrantes.
Como absorvemos esta influência, se não temos contato com a pessoa?
Uma teoria do biólogo Rupert Sheldrake explica um pouco como estamos expostos a essa influência. Ele diz, em sua teoria, sobre os campos Morfogenéticos.
De forma bem simplificada, estes seriam campos de informação, que não tem forma física, e que atuam em todos os sistemas. Todos os integrantes de um sistema estão expostos, ainda que de forma inconscientes, a esse campo de informação. E deles podem absorver e enviar informações a medida que estas são aprendidas.
Dentro de um sistema familiar, há também uma inteligência que age sobre todos, e geralmente sem nos darmos conta. A contribuição principal de Hellinger aqui é ter percebido as 3 leis que regem essa inteligência e nossa vida.
Elas agem quer nós sabermos ou não. Quer concordemos ou não. É algo inerente à nossa experiência na vida. Essas são conhecidas como Leis da vida ou Leis do amor, como proposto por Bert Hellinger.
As 3 leis
Não há uma ordem de importância entre elas. Estamos igualmente expostos a elas simultaneamente. São elas o Pertencimento, a Ordem e o Equilíbrio.
O pertencimento é a leis da vida que diz que aqueles que nascem em uma determinada família pertencem, e este pertencimento não pode ser revertido, em nenhuma hipótese. Isso significa que todos aqueles na nossa história familiar foram excluídos ou expulsos, por qualquer motivo, não perderam o seu lugar de pertencimento dentro da família.
Isso é muito comum de se ver nas constelações, membros que por um destino difícil foi colocado à margem ou mesmo fora do convívio familiar, e o mais importante, fora do coração dos seus familiares. A inteligência que rege o sistema reponde a esta lei, e obriga a um outro familiar a assumir o papel rejeitado, na busca de qualquer forma de inclusão daquele que foi posto para fora.
Assim, pode acontecer de alguém neste sistema começar a praticar atitudes que lembrem o destino ou a dificuldades de quem foi expulso. Isso ocorre causando dor aos familiares, que só pode ser resolvido com a devida inclusão daquele que foi mandando embora. Muitas vezes, isso ocorre durante muitas gerações, e o movimento de inclusão só pode ser feito no coração. É necessário olhar e aceitar, um movimento que muitas vezes é muito difícil.
A ordem fala da precedência dos que vieram antes em relação aos últimos chegados ao sistema. Essa é a lei que age quando os mais novos tentam de alguma forma resolver os assuntos dos mais velhos.
Esse movimento causa dificuldades pois nesse caminhos, os mais novos saem de seu lugar e tentam ocupar um outro, já ocupado pelos seus pais ou avós, ou até mesmo bisavós. Isso causa um stress no sistema, que busca rapidamente reestruturar o sistema para seu forma original.
Isso também pode ocorrer com pais que buscam, muitas vezes de forma inconsciente, serem cuidados por seus filhos. Eles buscam pelo afeto que desejavam receber de seus pais e transferem aos filhos a responsabilidade de preenchê-los. Esse deslocamento de lugar, tema tão central na constelação, também causa um stress no sistema, que busca restaurar a ordem original.
A outra lei é a do Equilíbrio, que rege as trocas dentro de um sistema. Para esta lei, é necessário que o dar e o tomar entre as pessoas de um sistema sejam igualitárias, gerando um saldo nulo entre as trocas.
Quando alguém dá demais, num nível que não permite sua compensação, a pessoa que recebe se sente sobrecarregada, e por muitas vezes se retira da relação. Esse é um caso comum que acontece nos relacionamentos afetivos. A pessoa que é abandonada muitas vezes fala: “Eu não sei o que aconteceu. Eu sempre dei tanto, sem pedir nada em troca…”
Essa lei só não age nos relacionamentos entre pais e filhos. Neste lugar, é papel dos pais apenas dar, sem pedir em troca, pois já receberam de seus pais. E aos filhos, cabe tomar o que vem, sem julgamento ou exigência, pois é o que vai ser passado adiante para seus filhos. Dessa forma, seguindo a sequência da vida, há o equilíbrio entre geração.
Trazer as dores inconscientes para a consciência
Um dos maiores benefícios da Constelação Familiar é trazer, através da vivência em um Workshop de Constelação, para o consciente as dinâmicas que estão agindo em nossa vida e trazendo dificuldades para seguirmos adiante.
Nossa identificação ocorre geralmente por nossa lealdade e amor ao nosso sistema. Esse amor é muito profundo. Muitas vezes, mantemos na superfície uma postura de negação à nossa história, como se pudêssemos escolher se o que ocorreu no caminho da vida até nós pudesse ser deixado de lado.
Há possibilidades de não ser tão afetado por nossa história familiar, mas todas elas passam pela aceitação. E por aceitar, compreendemos que não sentimos mais a necessidade de mudar o que aconteceu. Aceitamos nossa história, pelo custo que tiveram que pagar e pelo destino de cada um que nos antecedeu, e nos preparamos para também acessar a força que nos muitos desafios passados — e vencidos — para que a vida chegasse até nós.
Pode parecer que o trabalho é muito grande. Mas na verdade, tudo já esta dentro de nós, apenas aguardando um sim verdadeiro.
https://medium.com/@joaosneto/o-que-é-a-constelação-familiar-de-bert-hellinger-4f08c684a487
Nenhum comentário:
Postar um comentário